"O PRÍNCIPE ACHMED" PERANTE O PÚBLICO DE ELITISTA DO FÓRUM ABERTO DO CINEMA
Vou partilhar uma bela história: « ...No dia do aniversário do Grande Califa, foi organizada uma grande festa, acompanhada pela sua filha, a bela princesa Dinarsade, e pelo seu filho, o príncipe Achmed. Um mágico horrível da remota África, presenteou-os com o seu cavalo voador. Para possuir o cavalo, o Califa oferece ao feiticeiro tudo o que ele quiser. « Quero a tua filha », diz o feiticeiro. Mas o Príncipe Achmed defende a sua irmã. Traiçoeiramente, o Mago sugeriu-lhe que subisse no cavalo e Achmed partiu sem que percebesse, que não sabia, infelizmente, a forma de fazer o cavalo descer. Tendo finalmente encontrado um caminho para descer, desembarca num país desconhecido, numa ilha encantada, onde vive a bela Pari-Banu. Achmed a sequestra, mas o terrível Mago os persegue, joga o principe em um precipício onde um dragão deve devorá-lo, pega Pari-Banu de volta e a transporta para a China, onde a vende para o Imperador do País Celestial. Achmed mata o dragão, mas é dominado pelos demónios do Mago e atirado para uma montanha de fogo onde vive uma Bruxa muito poderosa, que é a grande inimiga do Mago. Aliados na luta contra o Feiticeiro, sobrevoam a China no momento em que o Imperador se prepara para casar Pari-Banu com um anão repulsivo, para a castigar por o ter recusado. Ao entrarem de surpresa na Casa dos Recém-Casados, já estão prestes a recuperar Pari-Banu, quando os demónios aparecem e a roubam de novo. Perseguidos por Achmed, escondem-na atrás de uma enorme montanha que se aproxima deles. « Só, a lâmpada de Aladdin pode ajudar-nos », diz a bruxa. Não muito longe, Achmed vê um belo jovem a sucumbir sob as garras de um monstro. Usando as flechas mágicas da Bruxa, Achmed mata o monstro e pergunta ao jovem quem é ele. « Eu sou o Aladdin ».
Conta então para Achmed, como, graças à sua lâmpada mágica, construiu um palácio para a bela Dinarsade, que se tornou sua esposa. Mas um dia a lâmpada desapareceu e toda a sua felicidade foi destruída. Perseguido pelos guerreiros do Califa, ele fugiu e foi atacado pelo Monstro.
Compreendendo que a culpa continua a ser do Mago, a Bruxa decide matar o seu eterno inimigo para recuperar a lâmpada e salvar Pari-Banu. Tem início uma luta horrível. Após mil reviravoltas, a bruxa triunfa. Mas os Espíritos Furiosos apressam-se a vingar o seu mestre e a própria lâmpada é novamente tomada por eles. A Bruxa, mais uma vez, junta-se à batalha, recupera a lâmpada e faz surgir Espíritos Brancos do Raio Puro que derrubam os sorrisos dos amantes. O Palácio Encantado de Aladdin está definitivamente a enfrentar os demónios de Wak-Wak! A Bruxa, mais uma vez, junta-se à batalha, recupera a lâmpada e faz surgir Espíritos Brancos do Raio Puro que derrotam definitivamente os demónios Wak-Wak! Finalmente, a felicidade sorri aos amantes. O Palácio Encantado de Aladdin ergue-se no azul do ce, levando os dois casais felizes para longe.
O Príncipe Achmed é obviamente uma obra muito artística, o que não quer dizer que não seja discutível. Esta era certamente a opinião do Sr. Charles Léger quando apresentou o filme de Lotte Reninger e de Ruttmann ao cinema de vanguarda.
Há um esforço considerável neste filme e muitas cenas devem ser mencionadas pela sua delicadeza, a harmonia dos seus valores e a poesia que delas emerge. Citarei ao acaso a viagem de Achmed no cavalo voador, o banho da princesa, o dueto de amor na montanha, as transformações do mágico...
Outras dão-nos sensações visuais raras: a luta dos espíritos brancos e negros, a fuga das ondas do rio, e tantas coisas bonitas espalhadas.
O Sr. Charles Léger tinha começado por centrar a discussão neste ponto: é ou não é cinema? As opiniões dividiram-se bastante. A conclusão parece ter sido, de maneira bastante sensata, que se tratava de « uma forma de cinema ». Este filme, como é sabido, foi realizado utilizando a técnica do desenho animado, « com uma manivela ». Poderíamos temer que o automatismo desta técnica tivesse provocado um grande cansaço visual para um longa-metragem como este. Não é esse o caso, e alguns dos movimentos têm um aspecto tão vivo que conseguem captar a nossa atenção e até emocionar-nos, como se personagens reais se movessem diante de nós. Alguém assinalou, com razão, que o cansaço resultaria mais da monotonia da forma e que a emoção que as imagens podiam suscitar era fortemente atenuada pela abundância de estilização. Há um excesso do maravilhoso e isso diminui a verossimilhança que gostaríamos de encontrar, mesmo num conto das Mil e Uma Noites.
Foi levantada outra questão. Será este filme susceptível de ser bem recebido pelo público comum do cinema? Parece que sim. Então porque é que, para além da exclusividade do Teatro dos Champs-Élysées e de duas salas nos Boulevards, até agora nenhum distribuidor apresentou este filme? Os pequenos mistérios da exploração! Não nos compete esclarecê-los aqui.
Jean D’Arc
Publicado originalmente em Photo-Ciné n° 03, janeiro de 1927. Traduzido do francês por Eduardo Fernandes