SILHUETAS DE UMA CINEASTA
Este ciclo surgiu na tentativa de localizar a cineasta Lotte Reiniger pela sua contribuição e prática enquanto realizadora de filmes animados pioneiros, que compõem seus elos com a praxis cinematográfica. Por meio da apresentação ao seu trabalho vanguardista e único do período da cineasta nascida na Alemanha e contemporânea dos grandes movimentos artísticos que surgiram em sua época — o expressionismo que marca o cinema do período — possuindo enorme contato com suas obras, por vezes até chegando a trabalhar junto a esses diretores, como quando dirigiu uma pequena sequencia animada na primeira parte de Nibelungos (1924) realizado pelo titã do cinema Fritz Lang. Dirigindo uma icônica filmografia de curtas animados, a pioneira Lotte Reiniger, empenhou habilidades manuais fabricando figuras, dando movimento a elas e vida ao contingente de mundos que captava suas lentes, abordagem possível por seus primorosos estudos em seu laboratório.
Com técnicas de fotografia e luz, uso de algumas tesouras e papel, emoldurados em uma estrutura montada sob uma câmera, as formas e suas silhuetas eram vivificadas sobre a tela de seus filmes. No domínio dessas composições e seus contrastes de sombra, arritmia de movimento e luz sob perspectivas geométricas, seus filmes lidavam com as formas, figurações valorosas de criação para ela. As silhuetas animadas confeccionadas para seus filmes se transcreviam com narrativa repletas de ícones e símbolos, constituindo uma fantástica mitologia adaptando histórias clássicas da literatura.
Deixada na sombra de um passado que não deteve a ela o mérito prestigiado enquanto vanguardista assumida de um cânone próprio da animação, renegando seu elo com as evoluções históricas das formas cinematográficas, como não vai ocorrer com outras figuras da animação como Walt Disney e seus reinos encantados ou Chuck Jones e seus looney tunes. A ideia aqui então consiste em dar a visibilidade necessária à essa singular realizadora que no maior priodonte dos tempos, permaneceu omissa da reflexão e da memória coletiva.
Eduardo Fernandes